[Opinião] Por que todos deveriam meditar?

A meditação e sua relação histórica com o uso dos cogumelos mágicos (Soma).

No Ocidente, a palavra “meditação” costuma ser associada a aplicativos com vozes suaves guiando relaxamento. O Yoga, por sua vez, é frequentemente reduzido a alongamento e alívio do estresse.

É verdade que diversos estudos científicos comprovaram que a meditação promove uma série de benefícios mensuráveis para o corpo e a mente. Pesquisas com neuroimagem demonstram que práticas regulares de meditação aumentam a atividade em áreas do cérebro ligadas à atenção, empatia e autorregulação emocional (como o córtex pré-frontal) e reduzem a ativação da amígdala, relacionada ao estresse e à resposta de luta ou fuga.

Além disso, estudos longitudinais mostram que meditar pode reduzir sintomas de ansiedade, depressão e insônia, melhorar a memória, fortalecer o sistema imunológico e até retardar o envelhecimento celular, ao influenciar positivamente a expressão de genes ligados à inflamação e longevidade.

Embora a ciência ainda não alcance os estados mais sutis descritos nos textos yogis, ela reconhece plenamente os efeitos positivos da meditação sobre o bem-estar psicológico e fisiológico. Mas isso é pouco. Essas benesses são — para os praticantes tradicionais — apenas consequências secundárias. A meditação verdadeira, como ensinada nos textos clássicos da Índia, não é relaxamento: é um método direto de libertação do sofrimento, tanto na vida quanto após a morte.

O Yogasutra de Patanjali — considerado por muitos como a “Bíblia hindu dos meditadores” — oferece um mapa preciso para a transformação radical da mente. E é claro desde o início: o objetivo do Yoga não é o bem-estar, mas a libertação da roda do sofrimento (saṃsāra).

Yoga é meditação profunda

Para facilitar a compreensão ocidental, podemos entender o Yoga aqui como meditação disciplinada e profunda. Os āsanas (posturas do Hatha Yoga) quando prescritos pelo mestre (em forma de prática disciplinar), não são o fim, mas sim ferramentas preparatórias: aceleram a jornada até o despertar completo da consciência, fortalecem o corpo, regulam a energia vital, estabilizam a respiração e a mente. Tudo isso para que o praticante possa permanecer por longos períodos em estados de atenção total, silêncio e imobilidade interna. Paz, foco e equilíbrio são efeitos colaterais naturais de uma prática bem conduzida, mas não seu propósito central.

A entrada em um estado extraordinário de consciência

Patanjali ensina que, quando a prática se aprofunda, a mente cessa seu movimento compulsivo. Nesse momento, surge um estado de consciência pura, silenciosa, não dual, além dos pensamentos e da personalidade. Esse estado não é metafórico. Ele é real, documentado por milhares de praticantes ao longo dos séculos — um fenômeno observável por quem trilha o caminho com honestidade e disciplina. Nada se move. Tudo é percebido. O ego desaparece. A liberdade se revela. Este é o coração do Yoga. Por favor, guarde esta informação.

Soma e meditação: as ferramentas sagradas

Poucos sabem que o Yogasutra reconhece que certos poderes extraordinários da mente (como clarividência, telepatia e expansão da consciência) podem emergir por meios específicos:

• pela meditação profunda,

• pelo uso de mantras,

• por ascetismo intenso,

• e também pelo uso de ervas, plantas e fungos sagrados.

Dentre esses métodos, um se destaca por sua potência e mistério: o Soma.

O que era o Soma? (Uma verdade oculta agora revelada)

Soma era uma bebida enteógena ritualística, consumida por praticantes de linhagens tântricas antigas. Sua composição variava conforme a região, mas relatos consistentes indicam combinações de:

• cogumelos sagrados Psilocybe cubensis ou Psilocybe azurescens (altas concentrações de psilocibina),

Peganum harmala (rica em alcaloides inibidores da MAO, que intensificam e prolongam o efeito),

• e, em algumas variações, a flor de lótus (Nelumbo nucifera), entre outros componentes.

E não, ao contrário do que muitos afirmam, o fungo Amanita muscaria não era utilizado por estes meditadores em seus ritos. Há relatos de fórmulas tão potentes que, em doses inadequadas, poderiam parar o coração de um cavalo. O uso não era leve, nem recreativo: era um ritual perigoso, exigente e profundamente transformador.

Como possivelmente era o uso?

Os praticantes tomavam o Soma em ambientes controlados e sagrados, sob orientação de mestres experientes. As doses frequentemente se aproximavam do limiar tóxico, levando o corpo a estados extremos. A mente atravessava vômitos, náuseas, distorções sensoriais e, então, com absoluta imobilidade e silêncio, o praticante mantinha-se imóvel por horas, contemplando o desdobramento da realidade interna, explosões, rupturas e as camadas ocultas da mente. O objetivo era ultrapassar as barreiras e fantasmas do ego, desmantelar condicionamentos e acessar planos de consciência inacessíveis ao estado comum.

O Fluxo da realidade e a testemunha imóvel que tudo percebe

Patanjali revela um princípio central: tudo o que você percebe está em constante mudança (corpo, emoções, pensamentos, desejos, o mundo). Mas existe algo em você que nunca se move: a consciência pura. O Yoga ensina a desidentificar-se do que passa e repousar naquilo que permanece. É ali, nesse ponto imóvel, que o sofrimento perde sua raiz, porque ele só existe enquanto você se confunde com aquilo que nasce, muda e morre.

Além do “Ego”: a mente silenciosa

O que você chama de “eu” é, na verdade, uma cadeia de pensamentos, memórias e sensações. O ego é uma estrutura funcional, mas não é você. Patanjali ensina que, por meio da meditação profunda, é possível reconhecer esse fluxo pelo que ele é — uma miragem transitória — e retornar à fonte: a mente silenciosa, indivisa, sem forma e sem tempo. Esse reconhecimento é o que — para estes devotos — rompe o ciclo do karma. Ações feitas a partir dessa consciência não criam mais amarras. O praticante age com lucidez, mas não se prende ao resultado. É livre.

Comece com Silêncio

Não é necessário acreditar em nada. Usar nada. Inventar nada. Apenas:

Sente-se.

Respire.

Observe.

Permaneça.

Todos os dias.

É nesse gesto silencioso que o Yoga começa de verdade.

E é nesse silêncio que, um dia, o que você realmente é — além de corpo, nome e história — se revelará.

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